sexta-feira, 29 de junho de 2018

Moçambique e o futuro


Moçambique: Como acabar com o trabalho infantil?

Esta sexta-feira, 1 de junho, assinala-se o Dia Mundial da Criança. Mas há muitas crianças que vão passar o dia de hoje a trabalhar. São obrigadas a fazê-lo por causa da pobreza.






António dos Anjos - nome fictício - é uma das centenas de crianças na província do Niassa que trabalham para conseguir mais algum dinheiro para a família.

"Não tive dinheiro para me matricular. Então, viajei da Zambézia para aqui para poder arranjar dinheiro e para me matricular no próximo ano. Com o dinheiro que ganho, consigo comprar baldes, panelas e roupa para a minha mãe", afirma.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estima que mais de 22% das crianças moçambicanas entre os 5 e os 14 anos trabalham, sobretudo na agricultura e na pecuária. A maior parte tenta contornar a sua situação de pobreza.



Como acabar com o trabalho infantil?

"Temos entrevistado as crianças para saber porque se encontram na rua e o problema que temos encontrado, na maioria das vezes, é o problema da pobreza", explica Lino Cristóvão, presidente do Parlamento Infantil no Niassa.

Cristóvão diz que a situação é preocupante. Na província, o trabalho infantil é sobretudo visível nas maiores cidades, Lichinga e Cuamba, e nas zonas de exploração de recursos minerais.

Contra o trabalho infantil

Para acabar com o trabalho infantil é preciso envolver vários actores - a começar pelos locais onde há crianças a trabalhar, refere Victor Maulana, coordenador provincial da Associação Amigos da Criança Boa Esperança.

"Nós, como organização, estamos a tentar ver qual será a estratégia para implementar um projeto de sensibilização de associações, nomeadamente associações de garimpeiros. Pretendemos fazer um trabalho de capacitação em matéria dos direitos da criança, para que eles não admitam crianças, porque aquelas crianças que se encontram naqueles lugares estão-se a perder", afirma.

Maulana diz que é preciso despertar consciências, integrar as crianças e lutar contra a pobreza com mais educação. As crianças precisam de ir à escola, estudar e aprender ofícios - é o seu futuro que está em causa, alerta.

"As crianças que praticam trabalho infantil não têm condições nas suas casas. Se perguntar, a sua resposta é que não têm mãe ou pai e vivem com as tias ou as irmãs. Então, são crianças carenciadas, que dependem delas próprias. É preciso inserir essas crianças."

Presidente moçambicano, Filipe Nyusi

Casamentos prematuros

Outro problema em Moçambique são os casamentos de menores de idade. Este ano, o país assinala o Dia Mundial da Criança sob o lema "Vamos pôr um ponto final aos casamentos prematuros".

"Façamos da família o laboratório que molda o cidadão de amanhã, [em que as crianças] tenham um processo de crescimento sadio e sem perturbações", apelou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, numa mensagem alusiva à efeméride.

Nyusi sublinhou que o Governo continuará a fazer incidir as intervenções em prol da educação, formação e desenvolvimento da criança.

Em Moçambique, metade das mulheres com idades entre os 20 e 24 anos casaram-se quando eram menores, segundo a UNICEF, que em conjunto com o Governo lançou uma Estratégia Nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros, que deverá vigorar até 2019.

A presidente do Parlamento moçambicano, Verónica Macamo, anunciou na terça-feira (29.05) que o órgão está a estudar o fim de uma exceção que legaliza os casamentos a partir dos 16 anos. A responsável disse que "deveria ser obrigatório que [os jovens] se casassem depois dos 18 anos", em vez de se permitir que o possam fazer a partir dos 16 anos, com o consentimento dos pais ou dos encarregados de educação, como prevê a lei atual.


sexta-feira, 8 de junho de 2018

Resolver com o plástico


Brasil perde R$ 5,7 bilhões por ano ao não reciclar resíduos plásticos

O tratamento dos resíduos ainda é inadequado, apontam especialistas

Publicado em 07/06/2018 - 16:08

Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil São Paulo




O Brasil produz mais de 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, dos quais 13,5% – o equivalente a 10,5 milhões de toneladas – são de plástico. Se o total desse montante de plástico fosse reciclado, seria possível retornar cerca de R$ 5,7 bilhões para a economia, segundo levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb).

“O Brasil ainda destina inadequadamente cerca de 40% de todo o resíduo gerado no país. São bilhões de reais que poderiam ser revertidos para a construção ou modernização de aterros sanitários, ampliação dos serviços de coleta e outras atividades relacionadas à limpeza urbana. O gerenciamento de resíduos envolve uma rede complexa de atividades e a reciclagem é um pilar que precisa começar a ser desenvolvido como oportunidade de negócio. Do contrário, não terá resultado concreto”, explica Marcio Matheus, presidente do Selurb.

Previsão de crescimento


O Brasil produz 10,5 milhões de toneladas de lixo plástico ao ano - Foto ONU: Martine Perret/Direitos Reservados


A entidade avalia que os números refletem uma realidade mundial e que o aumento do poder de compra da população e os altos investimentos em novas fábricas e tecnologias serão responsáveis por um crescimento de cerca de 30% na produção de plástico em menos de 10 anos.
Uma das alternativas em relação à gestão de resíduos sólidos apontadas pela entidade seria a erradicação dos quase 3 mil lixões existentes no país e a implantação de uma rede regionalizada de aterros sanitários, para tratar adequadamente os resíduos.

“Se ilude quem acha que é possível fazer reciclagem em um país continental sem buscar soluções de escala. A reciclagem só será possível quando houver viabilidade econômica, o que inclui incentivos governamentais, com isenções fiscais, e estrutura logística para tal. A primeira medida é desenvolver soluções logísticas que concentrem esses materiais, como ecoparques – que apresentam, também, a estrutura dos aterros legalizados. A partir disso, será possível diluir os altos custos logísticos e trazer viabilidade econômica para que os materiais recicláveis cheguem à indústria a um preço atrativo, como aconteceu nos EUA”, aponta o engenheiro especialista em sustentabilidade, Carlos Rossin.

Edição: Amanda Cieglinski