Covid-19:
Moçambique tem mais tempo de preparação, diz OMS
Moçambique é um dos países que está a ter mais
tempo de preparação para enfrentar o provável aumento local de casos da doença
respiratória covid-19, disse hoje à Lusa a representante da Organização Mundial
de Saúde (OMS) no país.
"Temos
de ver isso pelo lado positivo: fazemos parte dos países que tiveram a chance
de ter um tempo para se preparar e aproveitar [esse tempo] da melhor maneira
possível", referiu a guineense Djamila Cabral, em entrevista à Lusa.
"Para
mim, essa é a mensagem importante: provavelmente vamos ter mais casos, se as
coisas se passarem como temos visto nos outros países", alerta.
"Provavelmente
o número de casos vai aumentar, mas tivemos um mês, dois meses que nos
permitiram criar condições para nos prepararmos melhor. E se tivermos mais
dois, três ou quatro meses, melhor estaremos", evitando uma curva
acentuada de crescimento de casos e transformando-a numa subida lenta e
gradual, com a qual as autoridades conseguem lidar.
Moçambique
tem 28 casos oficialmente registados, sem mortes, com cerca de 762 testes
realizados desde que foi declarada a pandemia, a 11 de março, um número
inferior a muitos países, mas Djamila Cabral recomenda cautela nas avaliações.
"Não
temos elementos para dizer que estamos melhor que os outros. Felizmente não
temos encontrado muitos casos positivos", mas a curva da pandemia pode
estar ainda a formar-se.
"As
pessoas têm a sensação de que se calhar não temos muitos casos e que isso quer
dizer que fomos poupados. Pode até ser, mas a verdade é que ainda não vimos
tudo".
Sobre a
quantidade de testes realizados, Djamila Cabral considera que o sistema de
vigilância "funciona bem em Moçambique".
"Eles
têm experiência na vigilância", disse, referindo-se às autoridades de
saúde: "penso que está a correr bem".
"Penso
que o sistema de vigilância é relativamente forte aqui em Moçambique. Estão
realmente a fazer aquilo que devem fazer. É verdade que todos têm uma certa
ansiedade em relação aos testes, mas não se podem fazer testes a todo o mundo,
porque tem de haver regras".
Em
Moçambique seguem-se as normas da OMS: são testadas pessoas com sintomas que
tenham viajado de zonas com transmissão ativa ou que tenham estado em contacto
com casos suspeitos ou confirmados.
"Não
se deve testar todo o mundo, faz-se teste a quem precisa" e deve ser assim
"mesmo se tivermos um 'stock' [de testes] ali a postos", refere.
"Não
há nenhum país que tenha feito testagem a todo o mundo. Houve países com testagem
massiva", mas nunca para toda a população, realçou.
"Em
nenhum lugar se pode testar todo o mundo. O teste pode se negativo hoje e
amanhã pode ser positivo. Não vale a pena testar pessoas que em princípio vão
ser negativas. Testamos aquelas que pensamos que podem ser positivas".
E dá um
exemplo: se houver informação de que "num determinado bairro já apareceram
uma série de casos, temos de fazer mais testes naquele lugar.
Conforme a
epidemia evolui, a estratégia e os critérios de testes vão sendo
adaptados".
"Se
for ver as estatísticas em África, o número de testes aumenta com o número de
casos", acrescenta.
"Estamos
no bom caminho", refere a representante da OMS em relação a Moçambique,
salientando que a primeira reunião sobre covid-19 com o Ministério da Saúde
moçambicano foi em janeiro.
Desde
então foram criados 15 centro de isolamento, adicionadas 600 camas ao sistema
de saúde, foi dada formação a médicos e enfermeiros e o número de respirados
artificiais cresceu de cerca de 20 para a casa dos 50 e continua a aumentar,
refere.
"Desde
cedo foram tomadas medidas pertinentes, atempadas e corajosas", uma vez
que parte delas "tem impacto noutras áreas" e podem "não ser
muito populares".
Agora,
há que continuar a disseminar informação, refere Djamila Cabral, porque
"provavelmente ainda há zonas que não estão a receber todas as
mensagens" ao nível da prevenção, como por exemplo em comunidades rurais.
O país
vive em estado de emergência durante todo o mês de abril, com espaços de
diversão e lazer encerrados, proibição de todo o tipo de eventos e de
aglomerações.
Durante
o mesmo período, as escolas estão encerradas e a emissão de vistos para entrar
no país está suspensa.
O novo coronavírus,
responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 124 mil mortos e infetou
quase dois milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Dos
casos de infeção, cerca de 413.500 são considerados curados.
Depois
de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que
levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O
número total de infetados na China desde o início da pandemia é de 82.249, dos
quais 3.341 morreram e, até ao momento, 77.738 pessoas tiveram alta.
O
número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje as 800 com
mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização
dos dados da pandemia naquele continente.
09:17 -
15/04/20 por Lusa