República
Centro-Africana: “Ainda há muito por fazer”
Catherine Samba-Panza considera ser positivo o
balanço da sua presidência interina da República Centro-Africana, como afirma
em entrevista exclusiva à DW.
As eleições gerais de 14 de
fevereiro na República Centro-Africana (RCA), assinalam o fim do Governo de
transição e da presidência interina de Catherine Samba-Panza. Em entrevista
exclusiva com a DW, a governante mantém que “cumpriu a sua missão”. Não
obstante considera que o seu sucessor ainda tem muito trabalho pela frente no
país que se encontra numa violenta crise política há três anos. A violência
gerada pela revolta contra o poder dos rebeldes cristãos que dão pelo nome de
Anti-balaka, e a resposta dos vigilantes muçulmanos do Seleka, está mais ou
menos contida, mas grupos armados ainda resistem em partes do país.
Catherine Samba-Panza admite que
não foi possível solucionar todos os problemas durante o seu mandato, iniciado
em Janeiro de 2014. Mas lembra também que herdou uma situação difícil, que
obrigou a que os seus esforços se centrassem, sobretudo, no restabelecimento da
paz e da segurança. Para o que foi necessário também reforçar a autoridade de
Estado, sem descurar o relançamento da economia: "Apesar dos progressos
apreciáveis obtidos, ainda resta muito por fazer nos mais diversos domínios,
como a segurança e a reconciliação nacional. O Governo que resulta das eleições
deverá consolidar as ações já desenvolvidas e responder aos desafios que
perduram, integrando toda a população nas soluções, bem entendido".
Violações de crianças por tropas internacionais
Acusações de violações e abusos sexuais contra
crianças cometidos por soldados das Nações Unidas na RCA abalaram a comunidade
internacional
Um dos desafios para o novo
Governo é a continuada ocupação de partes do território nacional por grupos
armados. Catherine Samba-Panza lembra que o seu Governo lançou um programa
específico de reestruturação dos setores da segurança e Justiça. Instalou
também um Tribunal Penal Especial (TPE) para julgar crimes de guerra. E espera
poder continuar a contar com a ajuda da comunidade internacional, como as
Nações Unidas, a União Africana e a União Europeia.
As tropas estrangeiras são, no
entanto, impopulares, sobretudo devido à acumulação de casos de violação e
abusos sexuais cometidos por alguns dos seus elementos contra crianças.
Samba-Panza indigna-se contra o sucedido, mas: "Para começar, temos que
agradecer o enorme apoio que nos foi prestado. Mas é verdade que as forças aqui
estacionadas não têm só qualidades. Há alguns inconvenientes. Nós não estamos
em condições de estacionar as nossas forças de segurança nacionais em todo o
território. Necessitamos do apoio da comunidade internacional. Dito isto,
deploramos profundamente estes atos abomináveis cometidos contra crianças
centro-africanas".
Sociedade civil preocupada com corrupção
A sociedade civil da RCA levanta
acusações de corrupção contra o Governo de Samba Panza, que não tocam a
Presidente cessante diretamente, mas visam alguns dos seus colaboradores.
Estas críticas são rejeitadas
pela chefe interina de Estado, que aponta a aprovação que o saneamento das
finanças públicas do país recebeu do Fundo Monetário Internacional e do Banco
Mundial, obrigados a levar a cabo controles rigorosos: "Há sempre muitos
boatos. Sabe lá o que já disseram sobre mim. Por exemplo, fui acusada de
desviar partes dos apoios financeiros de Angola. Foi um ataque político contra
mim. Eu estou serena. Os novos governantes podem controlar as contas à vontade,
porque eu sei que não embolsei fundos públicos".
As acusações de “gestão opaca” remontam a 2014 e referem-se a doações
angolanas equivalentes a cerca de dez milhões de euros. Um quarto dessa soma
não deu entrada nos cofres de Estado, tendo sido destinado, segundo explicações
posteriores da presidência de transição, a “fundos políticos” para os esforços
de reconciliação não especificados.
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