Moçambique:
Reconciliação nacional é a chave para paz duradoira, diz analista
A
primeira coisa a ser feita para garantir uma paz duradoura em Moçambique é
desenhar-se um programa de reconciliação nacional, defende João Pereira. E o
analista olha com otimismo para os esforços do Presidente Nyusi.
Filipe
Nyusi e Afonso Dhlakama na Gorongosa num encontro no âmbito das negociações de
paz (06.08.2017)
Os últimos quatro anos de
conflito armado foram a prova de que a paz em Moçambique é muito ténue. Mas o
atual silêncio das armas e as negociações de paz aparentemente encaminhadas,
auguram melhores dias. E sobre os eforços que são necessários para consolidação
da paz a DW África entrevistou o especialista em administração pública e também
membro do Movimento pela Paz e Reconciliação em Moçambique, João Pereira :
DW África: O que
os moçambicanos precisam de fazer para que a paz seja duradoura e sólida?
João Pereira (JP): A
primeira coisa que é preciso ser feita é desenhar um grande programa de
reconciliação nacional. Acho que uma das coisas que falhou em 1992 é que não
desenhamos uma arquitetura de paz e reconciliação que começasse a nível de base
e que ajudasse no processo de reintegração efetiva dos homens da guerrilha da
RENAMO e de outros segmentos excluídos dentro do sistema de governação do
período que vai de 1975 até 1992. E depois com a entrada do Governo do
Presidente Guebuza houve uma mudança muito radical por parte da estratégia
adotada pelo Presidente e a FRELIMO que era mais ou menos o seguinte: por causa
das vitórias eleitorais que [a FRELIMO] estava a ter partiram para um processo
de exclusão e perseguição muito forte em relação aos homens da guerrilha da
RENAMO. E hoje vemos que há uma nova abordagem por parte do Presidente Nyusi,
que tem estado a procura desses caminhos [da paz], seguindo um pouco as pegadas
do ex-Presidente Chissano com o toque próprio. E dada a uma certa humildade que
está a ter permite-lhe voltar a ganhar uma certa confiança. Vamos ver como isso
vai terminar.
Exército
moçambicano
DW África: Entretanto esta
negociação de paz continua a ser monopolizada pelo Governo da FRELIMO e pela
RENAMO. Este modelo continua a ser válido para um processo que diz respeito a
todos os moçambicanos?
JP: Eu acho
que sim. Na primeira fase é preciso chegar a um acordo e essas duas forças
políticas têm de chegar a um consenso, porque elas é que têm uma grande força
ao nível do xadrez político moçambicano. É verdade que muitas organizações da sociedade
civil e outras forças políticas não representadas no Parlamento ou as
representadas querem fazer parte do jogo. Mas a questão de fundo é: qual é o
"added value", valor agregado em português, dentro de um processo de
negociação que é tão complexo. Será que não vão complicar ainda mais o
processo? No passado, por exemplo, mesmo com a existência de algumas outras
forças ao nível dos meios urbanos na clandestinidade não estiveram envolvidas
no processo. E eu acho que não vão trazer um "added value" nesse
processo. Então, defendo que se esse mecanismo der resultado então todos nós
saímos a ganhar, mesmo esses que reclamam dessa metodologia de negociação. E se
formos ver ao nível internacional, quando você tem dois atores envolvidos no
conflito eles não incluem a terceira parte no processo, porque isso pode
estragar ainda mais o processo e baralhar o próprio xadrez político de uma
forma que depois fica muito difícil encontrar consensos.
Moçambique:
Reconciliação nacional é a chave para paz duradoira, diz analista
DW África: O João Pereira faz
parte do Movimento pela Paz e Reconciliação em Moçambique, um movimento que
inclui organizações da sociedade civil. De que forma esse Movimento está a dar
o seu contributo nesse processo de paz com vista a uma maior consolidação?
JP: Estamos a
adotar diferentes tipos de abordagens, a primeira grande abordagem é coordenar
entre as organizações da sociedade civil uma estratégia de intervenção para
esse processo, ao nível das instituições de pesquisa, instituições religiosas,
as lideranças locais para ver como podemos criar um mecanismo de reconciliação
e paz por exemplo ao nível das comunidades, principalmente aquelas muito
afetadas pela guerra.