ONU prepara missão espacial
para ajudar países em desenvolvimento
- 03/05/2017 06h49
- Viena
A Organização das Nações Unidas (ONU) prepara o
lançamento de sua primeira missão espacial para o ano de 2021, com o objetivo
de ajudar países com menos recursos a realizarem experiências e a se
beneficiarem de tecnologias úteis para o desenvolvimento sustentável.
"A missão está prevista para 2021 e estamos
realmente emocionados em oferecer, pela primeira vez, a oportunidade de fazer
experiências científicas em órbita terrestre baixa com a tutela da ONU",
explicou à Agência EFE a diretora do Escritório das Nações Unidas para Assuntos
do Espaço Exterior (Unoosa), a astrofísica italiana Simonetta Di Pippo.
"Levar os benefícios do espaço para toda a
humanidade é nossa meta e facilitar o acesso ao espaço a países em
desenvolvimento é parte fundamental disso", acrescentou Simonetta.
A intenção, segundo ela, é "estudar questões
relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como a mudança
climática, a segurança alimentar e a preservação da biodiversidade".
A missão não tripulada será desenvolvida em cooperação
com a Sierra Nevada Corporation, empresa americana que desenvolve uma nave
espacial reutilizável chamada Dream Chaser, parecida com as antigas naves da
Nasa, a agência espacial norte-americana.
"A Dream Chaser foi selecionada por essa
agência dos Estados Unidos [EUA] para oferecer futuros serviços de
reabastecimento à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), e é
adequado para transportes tripulados e sem tripulação em órbita terrestre
baixa", explicou a astrofísica.
A missão vai durar duas semanas e levará entre 25 e
30 experimentos para serem feitos em microgravidade em órbita terrestre baixa,
entre 200 e 2 mil quilômetros de altura.
Por ser um veículo reutilizável, o custo para a
missão é mais baixo do que se fosse utilizada nave de apenas um uso.
A ONU também está buscando patrocinadores para
reduzir os custos, mas, ainda assim, os países cujos experimentos forem
selecionadas deverão também contribuir com o projeto.
Qualquer Estado-Membro da ONU pode participar, mas
a missão é voltada especialmente a países que não têm recursos para um programa
espacial próprio, disse Simonetta.
"Os preparativos estão em curso para a
convocação dos experimentos da missão. Esperamos receber muitas solicitações de
países latino-americanos", comentou a diretora do Unoosa.
Para que a missão seja o mais acessível possível
para Estados sem indústria espacial estabelecida, Simonetta informou que a ONU
vai oferecer assessoria para desenvolver os experimentos.
A diretora da agência da ONU, cuja sede fica em
Viena, na Áustria, destacou os benefícios da ciência e da tecnologia espacial e
disse que considera indispensável continuar investindo na área.
"As atividades espaciais são cruciais em nossa
vida cotidiana. Influenciam e tornam possíveis muitas coisas que damos como
certas, seja o uso de um celular, revisar a previsão do tempo ou receber ajuda
após um desastre", explicou a italiana. "É importante lembrar que o
espaço fomenta o desenvolvimento industrial e econômico: investir no espaço
significa criar novos empregos e ter um efeito positivo na riqueza de todo o
país".
Simonetta considera que a tecnologia espacial é um
motor a longo prazo para a inovação e oferece novas soluções para fazer frente
aos desafios da humanidade. "Os dados espaciais são extremamente úteis
para supervisionar os efeitos da mudança climática, bem como os esforços de
mitigação e adaptação", lembrou.
Além disso, a especialista comentou que "a
informação espacial é relevante em casos de desastre, já que os dados de
observação podem mostrar em poucas horas as condições de uma área afetada e
ajudar com a coordenação dos trabalhos de resgate".
"Quanto a questões de saúde, a tecnologia
espacial pode nos ajudar a rastrear a propagação de doenças, além de permitir a
telemedicina".
Simonetta defende o acesso livre a dados
procedentes do espaço, o que aumentaria "os benefícios econômicos, a
pesquisa e a inovação e apoiaria os processos de tomada de decisão sobre uma
base de dados acessível e transparente".
A diretora lembra ainda a recente descoberta de um
sistema solar (Trappist-1) com sete planetas, três dos quais se encontram na
área habitável e poderiam hospedar oceanos, o que aumenta a possibilidade de
que possam abrigar vida.
"Se for confirmado que pelo menos um desses
planetas é similar à Terra, poderíamos comparar suas evoluções e formações.
Possivelmente, obteríamos melhor compreensão do meio ambiente e das mudanças
climáticas, bem como de nossa história", concluiu Simonetta.
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