Facebook
e Twitter são questionados no Senado dos Estados Unidos
Publicado
em 05/09/2018 - 20:08
Por Jonas
Valente – Repórter Agência Brasil Brasília
Representantes do Facebook e do
Twitter foram questionados por senadores em audiência
promovida hoje (5) pelo Comitê de Inteligência. Entre os diversos
temas abordados, os parlamentares cobraram os executivos pela dificuldade em
combater a influência de outros países no debate político nas redes sociais e
em processos eleitorais. Os políticos também criticaram os prejuízos causados
pela disseminação de desinformação (e das chamadas notícias falsas) e de
mensagens de ódio no interior das plataformas.
A preocupação com a influência
externa na política dos EUA ganhou visibilidade com os indícios de que grupos
russos teriam atuado nas eleições presidenciais do país em 2016. Uma
investigação foi aberta no Parlamento e tanto Facebook quanto Twitter
admitiram ter identificado contas controladas por russos com atuação
no pleito. Perfis com responsáveis de outros países também foram localizados. O
receio foi retomado com a aproximação das eleições intermediárias deste ano no
país.
O presidente do Comitê, senador
Richard Burr (Republicano – Carolina do Norte), destacou a insuficiência das
medidas adotadas pelas empresas contra atuações nocivas no debate político,
especialmente estrangeiras. “Infelizmente, essa vulnerabilidade de segurança
nacional e risco inaceitável continuam sem respostas. Providências estão sendo
tomadas, mas esses problemas não estão indo embora. Não tenho nem certeza se
estão indo na direção correta”, comentou, em tom crítico.
A executiva-chefe de operações do
Facebook, Sheryl Sandberg, reconheceu que as eleições de 2016 evidenciaram o
que pode acontecer quando há abusos nos serviços da empresa, como o uso destes
pela Rússia em uma campanha de minar instituições democráticas e interferir nas
eleições. “Nós fomos muito lentos para entender isso e para agir. Isso é nossa
culpa”, admitiu, assim como Mark Zuckerberg já havia feito nas audiências no
Parlamento ricano em maio.
Ela citou como respostas
apurações internas, monitoramento de conteúdos por sistemas automatizados e por
profissionais e a derrubada de contas não autênticas. A executiva mencionou a
remoção de contas vinculadas a grupos Russos, do Irã e de Mianmar. “Estamos
trabalhando com especialistas de fora e governos para compartilhar informação
sobre ameaças e prevenir abusos. Estamos ficando melhor em achar e parar nossos
oponentes. Mas não temos acesso à inteligência a que o governo tem. Nós nem
sabemos sempre quem está por trás dos ataques e seus motivos”, ponderou.
O chefe-executivo do Twitter,
Jack Dorsey, também admitiu falhas da empresa em lidar com esse e outros
problemas. “Não estamos orgulhosos de como essas interações livres entre
usuários estão sendo aparelhadas e usadas para distrair e dividir pessoas e
nossa nação. Nós nos encontramos mal preparados e mal equipados para a
imensidão de problemas que identificamos. Abuso, assédio, exércitos de trolls,
propaganda por bots [robôs] e humanos, campanhas de desinformação e
filtros-bolha. Isso não é uma praça pública saudável”, assumiu.
Entre as medidas do Twitter, Dorsey
citou a fiscalização e a derrubada de contas falsas em uma média de 8 a 10
milhões por semana. Segundo ele, a companhia aumentou em 200% o ritmo de
remoção desse tipo de perfil no seu interior. A senadora Susan Collins
(republicana – Maine), entretanto, criticou o fato de a empresa
não ter avisado usuários que seguiam ou interagiam com contas
operadas por agentes russos. “Precisamos de algo mais, dizer pessoas que elas
pessoas foram envolvidas, vítimas inocentes de influência estrangeira”, disse.
“Concordo, é inaceitável”, respondeu o chefe-executivo do Twitter.
Debate político e desinformação
O presidente do Comitê, Richard
Burr, afirmou que a legislação do passado não dá mais conta dos desafios
colocados pelo poder assumido por essas plataformas. “A informação que suas
plataformas dissemina muda mentes. Quando você as controla, estão em posição de
ganhar guerras sem disparar um tiro. Isso é o quão sério isso é”, pontuou.
Sheryl Sanberg elencou
iniciativas da plataforma relacionadas às eleições – como lembretes do dia de
votação para eleitores e canais de comunicação com representantes. No tocante à
desinformação, mencionou as parcerias com agências de checagem para analisar
conteúdos. No caso de identificação destes como falsos, continuou, os usuários
são avisados e o alcance é reduzido drasticamente e artigos relacionados ao
mesmo tema com diferentes perspectivas são apresentados a quem recebeu o
conteúdo marcado.
Jack Dorsey mencionou, de maneira
genérica, providências aos problemas e desafios da plataforma. “Aprendemos com
a eleição de 2016 como proteger esses processos. Ferramentas mais fortes,
políticas melhores e parcerias estão ocorrendo. Mas temos que pensar maior.
Temos que perguntar o que o Twitter está incentivando as pessoas a fazer ou não
fazer e por quê”, afirmou. Contudo, não apresentou medidas para as críticas de
senadores tanto à desinformação quanto a mensagens de ódio.
Ao ser questionado sobre o uso de
robôs (bots) na rede social, prática bastante questionada tanto nas eleições de
2016 quanto em outros períodos, Dorsey concordou que a plataforma deve buscar
informar seus usuários. “Eu acho que usuários do Twitter têm direito a mais
contexto com quem estão interagindo. Em podendo identificá-los, podemos por um rótulo.
Estamos considerando isso, estamos interessados. Mas o que é mais difícil é
quando um sistema opera para parecer um ser humano”, colocou.
Liberdade de expressão e discurso de ódio
O senador Angus King
(Independente – Maine) ponderou, entretanto, que os problemas não se resolvem
apenas com remoção de contas falsas, uma vez que a desinformação pode ser
difundida por usuários “reais”. O parlamentar apontou o cuidado neste tipo de
atuação em razão das dificuldades na definição do que é verdade e o que não é.
“Estou desconfortável na
definição do limite entre o que é remover informação ‘fake’ e o que outro pode
considerar legítimo. Temos que estar certo que não estamos censurando, mas
provendo informação e contexto”, alertou King. “Quando estamos lidando com
pessoas reais difundindo conteúdos falsos. Há grandes implicações de liberdade
de expressão”, reforçou o senador Martin Heinrich (Democrata – Novo México).
“Delimitar a linha entre o que é
discurso de ódio e o que é desinformação é muito difícil. Especialmente se você
está dedicado a expressar liberdade de expressão. E em alguns momentos,
liberdade de expressão é expressar coisas com as quais você discorda”,
respondeu Sandberg. A executiva acrescentou que em razão desta dificuldade a
empresa não avalia, ela própria, se um conteúdo é falso ou não, deixando essa
tarefa para agências de checagem.
A senadora Kamala Harris
(Democrata – Califórnia) questionou a representante do Facebook sobre uma
reportagem do site norte-americano ProPublica, segundo a qual analistas
de conteúdo da equipe da empresa eram treinados para não derrubar conteúdos de
ódio contra determinados segmentos, o que terminava por beneficiar perfis
de homens brancos.
“Foi uma má política. O discurso
de ódio é contra nossas políticas e tomamos medidas fortes para remover
esse tipo de conteúdo. Nós nos preocupamos com direitos civis, temos
trabalhado com grupos nessa área para encontrar”, justificou Sandberg.
Soluções
O vice-presidente do Comitê, Mark
Warner (Democrata – Virgínia), defendeu que o Congresso deve entrar em campo. O
parlamentar listou um conjunto de desafios para os quais as empresas não têm
apresentado respostas efetivas e que deveriam ser considerados em eventual
regulação.
“Os usuários não têm direito de
saber quando estão interagindo com bots nas suas plataformas? Por que
seus termos de serviço são tão difíceis de achar e impossíveis de ler ou
entender? Por que não deveríamos adotar ideias como portabilidade de dados e
minimização, ou consentimento do titular? Que tipo de accountability
[transparência e fiscalização] deve existir em seus modelos falhos de
publicidade que vocês utilizam?”, indagou.
Ausência do Google
Os senadores criticaram a
ausência de representantes do Google na audiência. “Google tem uma imensa
responsabilidade nesse espaço [da internet] dado o seu tamanho e influência. Eu
pensei que os líderes do Google queriam mostrar o quão levam a sério esses
desafios”, disse o senador Mark Warner.
Saiba mais
Edição: Carolina
Pimentel
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