Uma em
cada quatro mulheres não tem acesso a saneamento básico
Publicado
em 24/10/2018 - 21:10
Por Camila
Maciel – Repórter da Agência Brasil São Paulo
Uma em cada quatro mulheres no
país não tem acesso adequado a infraestrutura sanitária e saneamento, conforme
mostra um estudo do Instituto Trata Brasil, divulgado hoje (24). A falta desses
serviços a 27 milhões de brasileiras contribui para reforçar as desigualdades
de gêneros, pois impactam a saúde, o acesso à educação e à renda, além do
bem-estar dessas mulheres, conforme as conclusões da pesquisa O Saneamento e a
Vida da Mulher Brasileira. Na idade escolar, por exemplo, as meninas sem acesso
a banheiro têm desempenho estudantil pior, com, em média, 46 pontos a menos no
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) quando comparadas à média dos estudantes
brasileiros.
A falta de saneamento é uma das
principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a
se afastarem, em média, por 3,5 dias ao ano de atividades rotineiras, como
escola ou trabalho. A incidência de afastamentos por motivo de diarreia ou
vômito é maior entre as mulheres, com 80,1 casos para cada mil habitantes,
segundo dados de 2013. A proporção entre os homens é de 73,4 para cada mil
habitantes. Este fator também impacta a mulher pelas características familiares
no Brasil que levam a afastamento mais frequentes delas como cuidadoras dos
filhos ou pais idosos que adoecem.
No caso da renda, a pesquisa
aponta que o acesso ao saneamento traria um acréscimo médio de R$ 321,03 ao ano
para cada uma dessas brasileiras, o que representaria um ganho total à economia
do país de mais de R$ 12 bilhões ao ano. “A perda da renda pode ser diretamente
– no caso de uma diarista que se não vai trabalhar não recebe –, mas pode ser
indireta – tendo doenças recorrentes [a mulher] se afasta mais do trabalho e
progride menos na carreira”, disse o coordenador da pesquisa, o economista
Fernando Garcia.
O estudo foi feito pelo Instituto
Trata Brasil em parceria com a BRK Ambiental e apoio do Pacto Global, conduzida
pela Ex Ante Consultoria, com base em dados oficiais do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e dos ministérios da Saúde, da Educação e de
Cidades.
Garcia destaca que a partir de
uma metodologia do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é
possível estimar que 635 mil mulheres sairiam da pobreza se acessassem serviços
de saneamento básico. “É uma linha sentida materialmente em termos de poder de
consumo. Conseguiríamos resgatar uma parte dessa população feminina e colocá-la
numa situação de riqueza material melhor”, explicou. A pesquisa mostra que 1,5
milhão de mulheres não têm banheiro em casa e que essas brasileiras têm renda
73,5% menor em comparação às trabalhadoras com banheiro em casa.
Diferenças regionais
No Norte e no Nordeste, o
atendimento regular de água chega a 53,2% das mulheres. Além disso, 70% das
mulheres que não têm banheiro em casa estão na região Nordeste. Na região
Sudeste, apesar de percentualmente os índices serem mais baixos, os números
absolutos chamam atenção: em São Paulo, são mais de dois milhões de mulheres
sem água na torneira de forma frequente; no Rio, 2,1 milhões; e em Minas
Gerais, 1,5 milhão.
Em relação à coleta adequada de
esgoto, o maior déficit é no Norte, onde o problema atinge 67,3% da população.
São consideradas coletas adequadas nas áreas urbanas as casas que estão ligadas
à rede pública ou, no caso de áreas rurais, as que contam com fossas sépticas.
Edição: Denise
Griesinger
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